Carlos de Barros já tinha vestido duas camisas de peso – KKR e Gávea Investimentos - no campo do private equity, quando decidiu criar a Lazuli Partners, no fim de 2022. Para concluir essa jogada, ele convocou outros dois nomes com passagem pela gestora de Armínio Fraga: Bruno Alves, que também atuou no Merril Lynch, e Piero Minardi, que comandou a Warburg Pincus no Brasil.
Depois de mostrar um bom entrosamento em seus primeiros lances, com aportes na Blue Health e na Farmax, o trio se prepara agora para atacar – e estender essa tabelinha – a uma nova área: o mercado de esportes, com a LZ Sports, novo braço de investimentos da gestora de private equity.
“Nossa ambição é ser uma das principais – se não a principal – gestoras de esporte e entretenimento no Brasil”, diz Barros, fundador e CEO da Lazuli Partners, ao NeoFeed. “Quando alguém pensar em um deal nessa área, queremos que venha falar conosco. É esse espaço que queremos ocupar.”
Barros e seus pares já vinham acompanhando a corrida cada vez mais intensa de gestoras e bancos, do Brasil e no exterior, nessa direção desde os tempos de Gávea. Mas decidiram deixar de ser meros espectadores nesse certame em meados de 2024. E outra onda deu fôlego a esse plano.
“Esporte é um dos setores mais imunes à inteligência artificial”, afirma Barros. “Porque essa é uma experiência que existe há dois mil anos - de ter dois gladiadores, numa arena, lutando. Ninguém quer ver um robô vestindo a camisa do seu time.”
Alguns números também dão uma dimensão do que está por trás dessa estratégia. Um estudo da EY, a pedido da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), projeta que o futebol, sozinho, movimenta mais de R$ 52,9 bilhões por ano – ou 0,72% do Produto Interno Bruto (PIB) do País.
Além dessa cifra, o contexto envolve a aprovação pelo Congresso, em 2021, do modelo de Sociedade Anônima do Futebol (SAF). O que, na visão de Barros, trouxe mais segurança jurídica para os investidores entrarem nesse campo.
O olhar da LZ Sports não estará restrito, porém, às quatro linhas. Um leque mais abrangente de modalidades - como automobilismo e tênis - compõe essa tese, que, por sua vez, também abre espaço para negócios no entorno dos esportes – como mídia, entretenimento e tecnologia.
“Nós podemos investir em toda essa cadeia”, diz Barros. Como exemplos, ele cita desde fornecedores de software e empresas de mídia até investimentos em arenas, SAFs e até mesmo ligas. Essa visão mais ampla também passa pela injeção de recursos, que poderá ser feita via equity ou dívida.
A abordagem também guarda semelhanças com a tese da Lazuli Partners. A começar pelas fatias adquiridas, que podem envolver desde participações minoritárias até o controle das operações. Mas com uma condição: ter voz e participação ativa nas investidas, a princípio, restritas ao mercado local.
Isso dialoga com a pegada da Lazuli de botar a “mão na graxa”, nas palavras de Barros, numa herança dos seus tempos como CFO e CEO da Dasa. Em outra conexão com sua “gestora-mãe”, os investimentos serão feitos por meio de club deals, sem um fundo específico e com captações para cada projeto.
“Os investidores estão muito avessos a blind pool. Eles alocaram muito nesse modelo e ainda estão presos a esses fundos. Estão digerindo isso”, diz. “Hoje, eles querem saber exatamente em quem você vai investir e que você mostre a transação. Para aí, sim, dizerem se vão entrar ou não.”
Na outra ponta
Há, entretanto, algumas diferenças entre as duas teses. Entre elas, o perfil dos investidores. Enquanto a captação da Lazuli mescla family offices, fundos de fundos de private equity, investidores institucionais e capital de fora, na LZ Sports, isso será mais centrado em “high-net-worth individual".
“As teses são mais de longo prazo. E, ao mesmo tempo, esse é um bicho que requer coisas diferentes do private equity tradicional”, diz. “Geralmente, focamos muito em geração de caixa e dividendos nas nossas empresas. Em esportes, você tem que se concentrar na valorização do ativo, da marca.”
Outro ponto que destoa do olhar tradicional da gestora é o tamanho dos aportes. A Lazuli costuma assinar cheques a partir de R$ 200 milhões, de olho no que classifica como upper middle market – empresas com faturamento acima de R$ 500 milhões e Ebitda próximo de R$ 100 milhões.
A LZ Sports, por sua vez, terá mais flexibilidade. Com um recorte mais amplo, os investimentos podem variar de R$ 50 milhões até R$ 1 bilhão, dependendo do caso. Com essas premissas, Barros diz que a gestora já tem “dezenas” de ativos em seu pipeline, em diferentes estágios.
Dois deles já estão em fases avançadas. O primeiro é uma marca de luxo relacionada ao mercado de automobilismo. Ele não dá nenhuma pista, porém, sobre a segunda conversa na mesa. Embora o nome no centro dessa negociação já venha sendo ventilado há tempos no mercado. Ou melhor, os nomes.
Conforme adiantou o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, a Lazuli, por meio da LZ Sports, está estruturando um fundo para comprar a SAF do Fluminense, com a promessa de investir R$ 6 bilhões no tricolor carioca nos próximos anos.
O NeoFeed apurou que a “escalação” dos cotistas do fundo por trás dessa iniciativa conta com um time de peso, com torcedores fanáticos do clube. Entre eles, André Esteves, chairmam e sênior partner do BTG Pactual.
Esse elenco envolve ainda Luiz Antonio de Almeida Braga, filho do banqueiro Antonio Carlos de Almeida Braga, o Braguinha (1926-2021), que ficou conhecido como o mecenas do esporte brasileiro com seu apoio a diversos esportistas, como Ayrton Senna e Guga Kuerten. A família é controlada da Icatu Seguradora. Assim como o pai, Luiz Antônio é sócio-benemérito do clube.
A lista também inclui Thiago De Luca, CEO da Frescatto; Guilherme Paes, sócio e responsável pela área de IB do BTG Pactual; e José Zitelmann, fundador da gestora Absoluto.
Tricolor de coração
Barros não esconde sua ligação com o Fluminense – ele se define como um tricolor “um grau abaixo do doente” e seus avós, por exemplo, se conheceram em um baile nas Laranjeiras. Mas não confirma a participação da LZ Sports no projeto, tampouco qualquer nome ou valor envolvido.
Ele não se nega, no entanto, a falar sobre o modelo de SAFs, ainda em maturação no Brasil. “Há casos e casos, mas o fato é que a SAF não é a bala de prata para todos os clubes”, afirma. Ele observa que os primeiros projetos nesse formato foram importantes para mostrar o que fazer e o que não fazer.
“É preciso olhar qual é o compromisso, se é de longo prazo, quais são as amarras e penalidades caso o que seja prometido não for realizado”, diz. “No fim das contas, como qualquer deal de private equity, seja dentro ou fora do esporte, é preciso conhecer bem o seu sócio.”
As bets, outra onda que vem ganhando terreno nos gramados, não estão no radar da LZ Sports. Mas a gestora está atenta aos impactos que uma eventual desaceleração nos investimentos feitos por essas empresas – até mesmo por questões regulatórias – pode trazer a esse mercado.
À parte dessas questões, a chegada da gestora reforça uma disputa que, no Brasil, já tem players locais, como XP, BTG Pactual e Itaú BBA, além de atrair gigantes de fora, como Mubadala e General Atlantic. No exterior, também não faltam exemplos de gestoras e investidores fincando os pés nesse jogo.
O nome mais recente a movimentar as peças nesse tabuleiro foi a Apollo Global Management. No início desta semana, o jornal Financial Times revelou que a gestora americana de private equity planeja lançar um fundo de US$ 5 bilhões para investir unicamente em esportes.
Dois meses antes, a agência Reuters já havia noticiado que a Apollo, que administra mais de US$ 800 bilhões em ativos, manteve conversas com o principal acionista do Atlético de Madrid, de olho em um investimento no clube da La Liga, a liga espanhola de futebol.